quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Batismo Infantil

O Novo Testamento não afirma nem nega explicitamente o Batismo de crianças, porém o insinua. O Batismo de crianças era praticado na época apostólica, como batismo de “toda a casa” do convertido que aponta sua família e servos.

No século II, Policarpo, bispo de Esmirna, na ocasião do seu martírio, diz que serve o Cristo há 86 anos, isto é, desde criança. Justino, mártir de Cristo, na sua Apologia, fala das pessoas que são cristãs desde a infância. Irineu, Bispo de Lião e discípulo de Policarpo: “Com efeito, Jesus veio salvar por si mesmo a todos os homens; a todos – eu digo – que por ele renasceram em Deus: crianças de peito, crianças maiores, jovens e pessoas adultas”. No século III, Cipriano, Bispo de Cartago e mártir de Cristo, critica quem, a pretexto de imitar a circuncisão judia, deixa para o oitavo dia de nascido o Batismo. Ele quer que os pais batizem os filhos assim que nascem. A Tradição Apostólica, documento importantíssimo para os cristãos, falando sobre o rito do Batismo diz: “Se (os que vão ser batizados) puderem responder por si mesmos, que respondam; se não puderem, que seus pais ou alguém da família, responda por eles”. Orígenes não somente atesta o Batismo de crianças, como também explica que ele é de instituição apostólica. E ele explica o motivo: a mancha do pecado existe em todos, também na criança. Tertuliano, contemporâneo de Orígenes também concorda que o Batismo de crianças é de origem apostólica (mas ele era contra batizar crianças, pessoas solteiras e viúvas porque tinha medo que elas pecassem depois de serem batizadas).

É convicção profunda da Escritura que não somos nós quem o escolhemos, mas é o Senhor quem gratuitamente nos escolhe. A primazia da graça de Deus que chama é sempre anterior a qualquer ato de fé. No entanto, somos sempre chamados a crescer e amadurecer na fé e na conversão.

O Batismo está ligado à missão da Igreja de oferecer a todos a possibilidade da comunhão com Cristo. A Igreja acolhe as crianças primeiramente para manifestar a vontade salvífica daquele que ordenou que as crianças viessem a ele.

Quando os pais pedem o Batismo para seus filhos a Igreja supõe que eles queiram partilhar com eles a fé em Cristo que já vivem em família.

Para Lutero, somente a fé torna a pessoa digna de receber o batismo, de nada aproveita sem fé.

Devemos condenar biblicamente a regeneração batismal que opera remissão dos pecados, livra da morte e do diabo e dá a salvação eterna no batismo. Tal afirmação só tem base exegética se aplicada ao batismo do Espírito Santo operado por Deus no momento da conversão. Esse é o ato onde o batismo é selado e validado. A promessa tem efeito na fé do recipiente, logo o batismo é o sinal da promessa e graça de Deus, que só é válida se aceita por fé pelo indivíduo (todo homem deve responder por si mesmo diante de Deus).

Isso não fere a confessionalidade e a unidade da Igreja, já que Lutero age assim na questão da Santa Ceia.

O batismo não é um “rito de passagem” ou “passe de mágica”. A igreja que batiza suas crianças não pode descuidar da evangelização e da formação cristã continuada.

Os sacramentos devem ser ritos instituídos pelo próprio Cristo nos quais elementos visíveis – água (batismo), pão e vinho (santa ceia), nos remete a promessa da possibilidade da salvação por meio da graça. Na conversão o próprio Deus nos batiza com seu Espírito e nos torna membros de seu Corpo. A salvação independe da ação e do merecimento humano, mas só tem validade se aceitarmos tal graça.

Devemos enfatizar o chamado de pessoas afastadas da vida comunitária e da vida cristã à conversão e à fé na dádiva da salvação concedida por Deus em Jesus Cristo e mediante o agir do Espírito Santo.

A fé pessoal que recebe a dádiva da salvação concedida mediante o ouvir da palavra e o ministrar dos sacramentos, o recebimento da salvação por graça, mediante a fé em Cristo. As pessoas já batizadas recebem a graça salvadora de Deus na profissão pública de fé diante da comunidade, sem necessidade de rebatismo.

Promessa como palavra efetiva mediante a concessão da fé. Onde não há fé, a promessa não efetua a salvação. Deus concede por meio do batismo a promessa da salvação, por meio da graça recebida por fé em Cristo.

O batismo em contexto sincrético e/ou de catolicismo popular, deve ser analisado para proceder um batismo cristão em nome do Deus Trino.

A prática indiscriminada e irresponsável do batismo de infantes deve ser analisada dentro da espiritualidade bíblico-teológica e confessional, sempre em consenso nas questões centrais da fé cristã.

Teologicamente proponho uma diferenciação entre o aspecto objetivo da salvação e o subjetivo da mesma, sempre em equilíbrio. Isso pode ser feito na questão da predestinação, batismo e santa ceia. O aspecto objetivo está na pessoa e obra de Jesus que fundamenta a fé, concedendo salvação (dentro disso batismo e santa ceia podem ser oferecidos a infantes como promessa). Ao lado defendo a responsabilidade humana frente a graça divina, aceitando ou recusando a obra divina (a promessa só tem valor se aceita).

Lembro que para Lutero os sacramentos eram sinais pelos quais Deus confirmava ou selava suas promessas ao seu povo. Defendia a eficácia inerente, mas a objetividade do sacramento era mantida se a eficácia inerente fosse postulada. Asseverar a fé como uma pré-condição para a sua eficácia parecia para ele fazer os sacramentos dependerem da fé do receptor.